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Trabalho
diário e treinos
Chegados a Queluz os
jovens Alteres iniciam a segunda fase do desbaste.
Num ambiente completamente diferente ao que
conheceram nos primeiros quatro anos de vida, à sombra
dos sobreiros, azinheiras e salgueiros, trabalham
agora entre fontes e painéis de azulejos
do Séc. XVIII, num ambiente calmo e
paradisíaco com intenso cheiro dos buchos
e flor de laranjeira, começando lentamente
a aperceberem-se da finalidade para que foram
criados.
Os poldros são distribuídos aos Picadores-ajudantes,
Aspirantes e Alunos começando ao princípio
da manhã a ser trabalhados à guia, adaptando-se
aos arreios da Escola, com peitoral e rabicheira, sempre
debaixo da orientação dos Mesteres e Picadores,
coordenadores da escala de trabalho.
Cada picador tem distribuídos quatro cavalos.
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Trabalho à Guia
Os poldros e cavalos novos são
desenrolados à guia antes de iniciarem o seu trabalho
diário montado. Tal procedimento permitirá que
os cavalos se distendam e descontraiam muscularmente
tornando-os mais colaborantes e atentos às ordens
e solicitações do cavaleiros.
Neste
trabalho, além da guia o chicote e a voz
do Picador são ajudas fundamentais. O chicote substitui
as pernas do cavaleiro quando montado dando a impulsão,
que deverá estar sempre em boa relação
com a tensão elástica da guia. A voz é muito
importante para tranquilizar. Este trabalho deve executar-se
com frequentes e calmas transições ao passo,
para depois partir em andamento mais activo. O trabalho à guia
deverá ser feito essencialmente a trote.
Na primeira
fase o Picador que segura a guia está parado,
fazendo pivot na perna para o lado onde o cavalo circula,
sendo auxiliado por um ajudante que agarra o chicote com
a mão contrária ao lado do movimento, evita
assim que o cavalo queira voltar para trás.
O cavalo
deve executar sempre círculos e figuras
com correcção. Os cavalos devem ser passados à guia
sempre de cabeção, com argola no chanfro.
Este
trabalho feito com rédeas fixas, nunca muito
apertadas, e feito em andamentos bem cadenciados é fundamental
para uma bom desenvolvimento muscular, indo o cavalo transferindo
o peso para o post-mão progressivamente arrumando
os posteriores debaixo da massa sem a sobrecarga do peso
do cavaleiro. A duração e quantidade de sessões
de trabalho com rédeas fixas dependem muito de cavalo
para cavalo.
"Muitas coisas boas se podem
obter com trabalho à guia bem feito mas, também,
muitas coisas más podem ficar, por vezes para toda a vida
de um cavalo que foi desordenadamente trabalhado à guia”
Mestre Nuno Oliveira
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Trabalho
Montado
Depois de tranquilos, após
montados à guia, os poldros começam a ser
soltos no picadeiro, montados, conduzidos pelas rédeas
presas às argolas do cabeção aprendendo
as primeiras figuras simples do picadeiro, tais como
círculos, oitos, serpentinas, voltas directas
e inversas, linhas do meio, etc. Só posteriormente é que
começam a ser conduzidos pelas rédeas do
bridão. Nesta primeira fase deverá haver
um ajudante no picadeiro a pé. Progressivamente
os cavalos novos vão sendo trabalhados no aperfeiçoamento
da cadência e das transições dos
diferentes andamentos assim como da execução
das figuras geométricas do picadeiro sempre numa
atitude de pescoço baixa e longe, nunca permitindo
e corrigindo sempre o encapotamento!
Depois do
cavalo tranquilo na fase anterior, começam
os trabalhos de mobilização e flexões,
tais como: cedências à perna e mobilizações
da garupa e espáduas, à vara e montadas primeiro,
partindo do parado e depois no círculo. Estes trabalhos
devem ser sempre acompanhados de pedidos de flexões
de nuca e maxila sempre que o cavalo resistir e nunca opondo
as pernas às mãos. Posteriormente evolui-se
das cedências à perna para a espádua
a dentro, obrigando assim o cavalo a transferir um maior
peso para os posteriores. Quando executadas correctamente
os trabalhos de duas pistas anteriormente descritos estão
os cavalos preparados para iniciar a execução
dos Ladeares.
Relativamente ao trabalho de galope depois
de bem tranquilas as transições deste andamento ao trote e
ao passo começam a ser pedidas as saídas
ao galope do parado, o galope ao revés e só posteriormente
os trabalhos de duas pistas, as passagens de mão
e posteriormente os círculos de garupa a dentro,
para ambas as mãos. Só depois começam
a ser pedidas as piruetas que devem iniciar-se por quartos
de pirueta, meias piruetas e só no fim o exercício
deve ser solicitado por completo.
Para a execução dos últimos exercícios,
tanto no trote como a galope a atitude do cavalo é bem
mais alta do que anteriormente, dado que foi transferido
o peso para os membros posteriores, mantendo-se a nuca
o ponto mais alto e o chanfro do cavalo nunca deverá estar
aquém da vertical!
Das transições do parado ao trote e do trote
ao parado começam os cavalos a instalar-se progressivamente
num trote no mesmo terreno a que se dá o nome de
Piaffer. Para a preparação deste exercício é fundamental
utilizar o precioso princípio: “mãos
sem pernas e pernas sem mãos”, evitando assim
que os cavalos ganhem medo ao dito exercício e comecem
a picar o trote e a perder suspenção. Na
primeira fase não se deve dar mais do que quatro
ou cinco passadas e romper logo para diante o que dará maior
frescura ao exercício. Também aqui é fundamental
não deixar encapotar os cavalos pois tal atitude
levará a que eles coloquem os membros anteriores
atrás da vertical aproximando os mais dos posteriores
impossibilitando assim que a articulação
do carpo venha perto da horizontal tirando assim todo o
brilhantismo e arrogância ao exercício.
Pelas
transições do parado ao trote concentrado
e deste ao trotes de trabalho e alongado e vice-versa começam
os cavalos a adquirir maior suspensão e elevação
no trote, que depois de bem cadenciado culmina na brilhante
Passage.
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Espectáculo
Ares Altos
Os Ares Altos constituem o primor máximo da Equitação
Barroca.
Para o ensino dos Ares Altos os Picadores
recorrem aos trabalhos à vara. O principal exercício
preparatório é o Piaffer, e respectivas transições
ao passo, ao trote e ao parado.
Além do Piaffer, ensinam os Picadores, as Corvetas, Terra
a terra, galope no mesmo terreno, assim como as transições
rápidas e precisas destes exercícios a andamentos
mais activos, para diante com a finalidade de ir buscar frescura
e criar tónus muscular para formar e executar os saltos
de escola mais enérgicos como as Balotadas e as espectaculares
Capriolas.
Os principais Ares Altos são as Levadas, Pousadas, Corvetas,
Balotadas e Capriolas.

Levada
É um Ar Alto em que o cavalo flecte graciosamente os curvilhões,
puxando o peso atrás e recolhendo os anteriores aproximando-os do ventre,
na atitude que vemos em tantas estátuas equestres por toda a Europa.
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Pousada
Neste Ar a atitude é mais alta que a anterior e que nas
corvetas havendo uma menor flexão dos curvilhões.
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Corvetas
Saltos sobre os posteriores a partir da atitude de Levada. Enquanto
que na pousada, o cavalo executa o exercício à base
de equilíbrio devido à atitude ser mais alta, a corveta é executada
mais à base da força dos posteriores, devido a um
maior flexionamento dos referidos membros, sendo consequentemente
a atitude mais baixa.
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Balotada
Depois da preparação deste Ar em Piaffer, ou galope
no mesmo terreno, o cavalo forma o salto recolhendo os anteriores
e mantendo os posteriores debaixo do corpo.
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Capriola
Neste Ar o cavalo concentra-se, puxando bem o peso atrás,
flectindo os curvilhões, salta energicamente, elevando-se
no ar e distendendo os membros posteriores, planando uns momentos
na atitude de Pégaso.
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Piaffer
O Piaffer é um trote no mesmo
terreno com elevação e cadência.
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Pirueta a Galope
Exercicio em que o cavalo roda fazendo pivot no membro posterior interno
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Trabalho à Vara
Com este trabalho inicia-se o flexionamento
e a mobilização lateral dos cavalos, passando
pelos trabalhos de duas pistas em redor do Pilão
fixo, para a execução dos mesmos exercícios
em volta do Picador. O cavalo vai-se concentrando e jogando
com o seu centro de gravidade, preparando-se progressivamente
para os Ares Altos.
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Trabalho aos Pilões
Os Mestres antigos usavam os pilões
para reforçar a concentração dos
seus cavalos e diziam “os pilões dão
espírito aos cavalos”. Aí a partir
do Piaffer davam início ao trabalho das levadas,
corvetas, balotadas e capriolas.
“O cavalo que sem sela nem cabeçada pode fazer o Piaffer nos pilões,
em calma, sem se enervar, está-se a arredondar mais, desenvolvendo os
seus músculos no bom sentido”
Mestre Nuno Oliveira.
Por uma questão estética hoje em dia os pilões
estão colocados no meio do picadeiro suportando as bandeiras
com as armas de D.João V.
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Rédeas Longas
Pelo ensino o cavalo torna-se dócil
e adquire uma cadência lenta que permite ser conduzido
por um homem a pé.
As indicações discretas da vara, são suficientes
para que execute os mais difíceis exercícios de Alta
Escola que vemos no cavalo montado.
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Solo, Pas de Deux e Pas de Trois
Consoante as dimensões das pistas
podem ser apresentados estes números variados, em que
os Picadores e cavalos evoluem com diversas coreografias, demonstrando
vários movimentos e figuras nos três andamentos,
nomeadamente trabalhos de duas pistas; Piruetas e passagens de
mão aproximadas a galope; Piaffer e Passage.
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Carrocel
Um grupo de dez a doze cavaleiros evolui
com uma coreografia sincronizada, como uma espécie de
ballet equestre.
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